quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Sociedade Doente


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Estamos em uma sociedade infelizmente doente
Onde é normal ser falar do outro,
Como se o outro fosse menos gente
Como se outro tivesse menor valor

Sociedade doente é aquela que corromper é normal
Aquela em que temos que escolher entre o ruim e o pior
Entre o sujo e o mal lavado
Entre ladrão e o "roubão"

Sociedade doente é esta.
Esta em que a vida do outro preocupa a todos
Em que o pecado do outro é da conta de todos
Em que escondemos os nossos defeitos


Estamos em uma sociedade maquiada
Onde cada um ostenta uma máscara
E que a cada dia percebemos que a máscara foi furtada
E que o furto era roubo.

Coitados somos nós, coitados são os outros
Todos degustam o sabor amargo
Enquanto uns poucos (que hoje são muitos) se deliciam.
Enquanto os que se deliciam debocham.

- Trabalhe mais! Não fale de crise!
 - Trabalhe mais! Vagabundo não dá palpite
 - Esquerdopata! Coxinha! Doentes!
 - Bora atravessar a ponte!

- Se não ajuda, não atrapalhe
- Se não quer trabalhar, não reclame!
- Se não concorda comigo, está contra mim
- Está contra mim? Não responda.

- Não pense em problemas
- Os seus problemas não existem
- Se existem, eu não tenho culpa
- Se tenho culpa , não me incomode

- A união não faz a força
-A união não faz coisa nenhuma
- Tape esses ouvidos
- Esqueça aquelas historinhas de igualdade

São discursos horrorosos
Sem fundamentos, sem sentido
Tentam justificar seus malfeitos
Mas é erro atrás de erro.

O rico fica mais rico pra isso não tem desculpa
O pobre vai ficando cada vez mais desgraçado
Pelas autoridades nem mesmo são lembrados
A não ser que seja pra meter a faca do imposto nos coitados.

Será mesmo meus deuses?
Será que não tem remédio?
Será que a nossa sociedade doente está com seus dias contados?
Prendam ,se existir, o ladrão que está com o remédio guardado.

Vez outra aparece um iluminado
E todos os aplaudem como se o salvador tivesse chegado
Dali a pouco, mais uma vez o sujeito da um jeito de estragar o seu reinado
E pra isso não tem falha. Estraga bem estragado.

E o povo vai assistindo
Segue decepcionado,
Parecem não acreditar
Que o país possa ser salvo.

O país pode ser salvo?
O país pode ser salvo.
Ajuda muito se antes de qualquer coisa
Tivéssemos cidadãos menos alienados.











segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Era uma vez um grupo chamado "opressor"


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Lá estão eles, tão mesquinhos,
mal sabem do que falam
mas mesmo assim falam
não sabem de quem falam
mas mesmo assim falam.

Cá estamos nós. tão verdadeiros,
sabemos do que falamos
sabemos de quem falamos
Gostamos do que falamos

Eles não dizem nada
são sem assunto,
Nós somos poetas
E temos sempre razão.

Conhecemos a literatura
Conhecemos belas canções
e também lugares maravilhosos
já viajamos meio mundo

Eles conhecem o morro
Conhecem o "gritar na rua"
Conhecem vários becos
Não foram em lugar nenhum

Nós somos de bem
Somos paz, sempre certos
Eles não sabem quem são
não sabem o que dizer, não são ninguém

Nós temos dinheiro,
Eles nem um vintém
Nós temos consciência
Nem isso os coitados têm.

Vivemos com o que é nosso
batalhamos para vencer
Eles só ficam de boa
Só ficam atoa, merecem a vida que têm.

Nós podemos julgar
Somos letrados,
Eles só podem ser julgados
São ignorados.

Nós temos a palavra
Temos voz e somos ouvidos sempre
Eles que se contentem com o silêncio
E que fiquem em silencio.

Nós temos luz
Somos "luz das mais brilhantes"
Eles estão apagados
E se não estão  logo serão.

Nós temos sonhos
Eles devem ter pesadelos
Eles são o nosso pesadelo
Seu acordar é o nosso pesadelo

Tomara que continuem assim
bem quietos, bem calados
Que fiquem com suas misérias
Que nós ficamos com o mudo farto

Que continuem dormindo
mesmo que seu sono seja desgraçado
Enquanto isso podemos ficar sossegados
Vivendo sonhando ainda que acordados.

Que permaneçam parados
Por que dali não hão de sair
Por que se saírem...
Não podemos nem pensar no quanto vão nos incomodar.

Mas se acaso alguma coisa atrapalhar o pesadelo
nós vamos parecer até bonzinhos
daremos à eles migalhas de um de nossos sonhos
e eles que se contentem e voltem aos seus devaneios.












sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Do lado de fora tem gente


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A comida já está na mesa
A bebida já está na geladeira
O Natal já está chegando
E o velho Noel certamente trabalhando

Crianças já estão no terreiro
Brincando com os primos
Brigando com os primos
Gritando pela mãe, pela avó e pela tia

Os adultos já planejam a ceia
já contam piadas
já fazem piadas
Falam alto, outros não falam

As mesmas conversinhas de sempre
São todos amigos
É tudo perfeito
Aquele parente distante, de repente vira amigo do peito

No trabalho não é diferente
Confraternização, comes e bebes
abraços apertados,
esquecimentos avulsos

A época é de perdão
é de convívio é de amor
A época é de presentes,
presentes em objeto, em ações

Somos solidários
Preocupamos com os pobres
Ainda que também sejamos
Se não em âmbito material, talvez no espiritual

Brota-se a caridade
a irmandade, o carinho
Brota o olhar comum
Brotar o dividir o pão

Que semana boa
Que data boa
tem presente, tem Noel
tem família, tem sorriso, tem choro?

Nos emocionamos com facilidade
Choramos, rimos, vivemos
Sonhamos, nos compadecemos,
Sem querer temos bondade

Campanhas de doação
Cestas básicas,
Preocupamos com o mendigo
Com o menor sem recursos, com o pai de família

Preocupamos com a criança
Aquela que não tem pai,
Aquela que não tem mãe
Aquela que não tem lar

Somos obrigados a olhar pra dentro de nós
Mas também a ver aquilo que acontece ao nosso redor
Do lado de fora tem gente com fome
Do lado de fora tem gente com frio

Que bom seria se todo dia fosse Natal
Que bom seria se todo dia tivesse comoção
E que essa comoção produzisse frutos como produzem no Natal
Gerassem "o olhar para dentro" mas também o "olhar para fora"

Pro mundo ficar mais fácil
Talvez não fosse tão difícil
Talvez para isso, bastasse apenas
Termos no ano mais "natais"

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Somos todos certos, estamos todos errados.


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Diariamente nos colocamos em frente a uma série de opiniões e explanações (de ação e de pensamento) que chegam a nos incomodar de uma tal forma que questionamos o por que de determinada pessoa predizer certas palavras ou mesmo ter certas atitudes. Diante disso entro em colapso, pois por não raras vezes tenho defendido a necessidade do respeito às diferentes correntes de pensamento, ou mesmo às diferentes ideologias.
Humanos que sou, fico perplexo ao imaginar por exemplo que ainda hoje correntes extremamente conservadoras ganham força e reafirmam que a nossa sociedade deveria ser embasada nos velhos pensamentos tradicionais imprimem muitas vezes um caráter extremamente retrógrado. Em contrapartida percebemos também que correntes liberais (ainda que sufocadas) ganham espaço com seus ideais de "promessa" de que seria possível  um mundo mais justo e igualitário;
Simpatizante da Libertação inter pessoal vejo a necessidade trabalhar a tolerância em nosso meio, e quando digo isso não falo somente que os defensores de uma Doutrina Conservadora deveriam ter para com os Liberais se é que assim os possa chamar, falo da tolerância universal. Por muitas vezes defendi "com unhas e dentes" que o ideal comum seria a melhor solução. Discuti com várias pessoas em busca da defesa de meus ideais, daí percebi que como dito eram MEUS IDEAIS, e não is ideais do outro que estavam à prova. De nada adianta uma discussão movida pela ignorância do que profere aquele que seria no caso seu adversário ideológico. Não devemos ofender aquele que pensa diferente, ou mesmo cogitar que o pensamento do outro seja errado e que o nosso seja o certo, pois o certo e o errado é meramente subjetivo, assim sendo cada um defende seu certo e acusa o erro do outro. Somos todos certos, estamos todos errados.
Enquanto insistirmos em ferir (mesmo que em palavras) aquele que pensa diferente estaremos ignorando que o nosso pensamento para ele tem o mesmo efeito do que o dele sobre o nosso, assim sendo a guerra tornaria-se, assim como se torna, um ciclo vicioso.  O que podemos e devemos fazer é explanar de modo constante e pacífico a nossa visão de mundo, lembrando que nem sempre essa visão será bem aceita, e muitos poderão até atacá-la e isso não deve nos afetar nem tampouco fazer com que "mudemos" de lado salvo se for para a evolução. Devemos aprender a aprender com o outro, tanto quanto desejamos que outro aprenda com o nosso modo de pensar. Precisamos, para que a vida em sociedade se torne "vivível" o aprender com o outro, mas mais do que isso o aprender que o existem diversos modos de pensar , e que esses diversos modos de pensar têm sim suas bases teóricas que a justificam, podendo estas ser diferentes das nossas.
Diferente nem sempre quer dizer que é errado e nem certo, apenas que vieram de defesas diferentes. Lógico que isso não significa que não possamos conversar com o outro ou mesmo discutir de maneira saudável pela defesa de nossos ideais, o que digo é que essa discussão deve ser consciente já que temos que de antemão aceitar que esta poderá não gerar frutos, e que no fim desta cada qual poderá seguir seu rumo sem desavenças.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

O menino que não brincava


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  Vi outro dia um menino que não gostava de brincar com as outras crianças, pelo menos não parecia que gostava. Enquanto várias pessoas com idade aproximada a dele corriam no terreiro e conversavam, e riam, e cantavam ele permanecia quieto debaixo de uma árvore de gergelim, calado sem nem olhar para os outros. Tal fato me instigou bastante, sempre achei que a infância era feita para ser brincada, pra não ter preocupação pra comer doce, mas com aquele menino parecia que nenhuma das “regras de ser criança” tinha validade. Estava um tempo bonito, com um sol estridente, forte.... O céu estava de um azul sem fim. Mas nem isso o animava.
  Indaguei os outros se eles não haviam o convidado para participar de suas travessuras, algumas crianças sequer me deram atenção e continuaram correndo atrás de uma bola que agora era a diversão da meninada. Um porém, que eu também não conhecia, veio até mim e me disse que todo dia era assim, que o “isolado”, segundo ele, chegava na pracinha, e ficava em um canto, não falava com ninguém e quando alguém dizia algo ele simplesmente ignorava. Fiquei com aquilo na cabeça, mas não pude fazer nada. Acho que não tive coragem de fazer nada, nem de ir conversar com ele. Não sabia como aborda-lo.
  Fiquei mais um tempo ali observando todas as crianças, depois peguei meu paletó – não sei onde estava eu com a cabeça de trazer comigo um paletó com tão intenso calor- e fui para casa. Chegando em casa me esqueci por alguns instantes daquele menino, ou até mesmo de todos ele. Entrei, tomei meu banho, fui ler um pouco. Enquanto lia me veio a imagem daquela criança à minha mente. Estava muito curioso, queria entende-lo, para isso precisaria voltar no dia seguinte e se ele estivesse lá novamente, teria que ter sorte para que ele conversasse comigo.
  No outro dia, levantei bem cedo e me coloquei a caminho da pracinha, ainda com um pouco de receio, pois não sabia como ele ia me receber, e ainda não sabia como iria abordá-lo. Mesmo assim fui com toda a coragem que tinha... Coragem que não era muita.
  Felizmente antes mesmo de chegar ao local avistei o bando de crianças. Fui me aproximando até que pudesse ver a árvore de gergelim. Mas ele não estava lá, fiquei desapontado... Esperei cerca de uma hora (parecia um século).  Quando já estava decidido a ir embora, vi se aproximando uma senhora, e com a senhora o menino que eu tanto esperava... Provavelmente a mãe ou uma tia.
  Eles chegaram e eu fui até eles. A senhora parecia até bem humorada,  o que diminuiu o meu receio, pois confesso que pensei que a mãe do menino era aquele tipo de pessoa que briga com a criança por tudo ou que não deixa a criança ser criança. Digo a mãe, por que após ter perguntado ela afirmou que era esse o seu grau de parentesco com o menino.
 Ela estava com pressa, mal trocamos umas duas palavras e ela se foi, deixando lá o menino, que até então não pude eu saber o nome.  Tentei puxar conversa com ele, perguntei qual era o nome. Ele nem me deu ideia, do jeito que estava permaneceu. Nem na minha cara ele olhou. Eu chato que sempre fui continuei na minha empreitada e tentei falar do tempo, ou das brincadeiras. Ele permaneceu calado. Tentei, tentei e nada...
  Assim se sucedeu por vários dias, até em uma manha ele resolveu falar comigo. Confesse que nesse dia e nesse momento quis pular de alegria, mas não podia, lembrei-me dos tempos de estudo na faculdade em que aprendi que não devemos demonstrar manifestações de “estranheza” quando uma criança faz algo novo, pelo menos aos nossos olhos. Mantive-me externamente sereno. Ele foi direto e claro e me disse que não gostava de ter amigos, que não queria brincar com ninguém, e que detestava estar ali. Fiquei feliz por ter ouvido a voz dele, porém triste pela resposta que recebi.
  Não sabia nem o que responder. Talvez perguntasse por que e não gostasse da resposta. Perguntei. Ele não respondeu. Respeitei o tempo dele. Afinal ele não era uma criança muito pequena na verdade percebi que ainda que fosse magrinho e baixo já tinha uns doze anos mais ou menos.
  Nos dias que sucederam, sempre que eu podia passava naquele local, sempre no mesmo horário. Agora ele já começava a me cumprimentar. Não era nada caloroso, mas um “Oi” ele dizia. Como o passar do tempo ele começou a trocar umas palavras comigo, mas não falava sobre sua casa nem sobre sua família. Falava mais sobre sua antiga escola, e sobre seus antigos amigos. Fui percebendo que aquela criança tinha um medo muito grande de se apegar as pessoas, de ter novos amigos, por que segundo ele, os amigos sempre vão embora, e quando não vão é ele que vai embora. O menino era inseguro. E eu pensando que isso era coisa de adulto. Ele tinha receio de começar a brincar, a conversar a criar vínculos e ter que se despedir novamente.
  Já não sabia se estava eu fazendo bem ou mal ao menino, pois  provavelmente dali a pouco ele poderia partir novamente e ter uma nova frustração. Comecei a me sentir culpado.  Mas continuei conversando com ele sempre que podia. Poderia ser que não fossemos amigos para sempre, mas queria ser o amigo dele enquanto eu pudesse ser.

  Uma criança passa por momentos dos quais a gente, os adultos, nem imagina. Assim como os seus pais, tios e avós podem ter uma frustração tamanha que bloqueie sua vontade de comunicação. Muitos não percebem e deixam que os “isolados” continuem cada vez mais “isolados”. Frases como: “Ele é assim mesmo” ou “Ele não gosta de brincar” são muito freqüentes nesse tipo de situação. Não devemos ter uma postura que reafirme esse isolamento. Crianças não são mini adultos. A infância é uma fase de extrema importância de caráter fundamental, sendo um fator determinante para o prosseguimento das demais fases da vida humana. Crianças isoladas podem se tornar adolescentes isolados e, por conseguinte adultos isolados. 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Ser humano em construção


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"As vezes parece fácil sobre o mar velejar
Mas há de se admitir que nem sempre assim será.
Vivemos de esperanças que nos motivam
Que nos afrontam...
O perfeito não está no que verdadeiramente é,
Mas na visão lúdica que fazemos dele,
Agimos não por instinto, mas pela busca de nossas realizações.
Percebemos as curvas onde antes só havia retas...
Observamos que os caminhos até então paralelos se coincidiam, 
Ou ainda se tornaram até concorrentes.
Idealizamos as nossas vontades.
Ignoramos opiniões dos outros,
não conseguimos discernir sobre as nossas convicções.
Fazemos assim do nosso inconsciente um depósito de informações
Informações degradantes que acabam com a nossa existência...
 O ser humano não evoluirá num plano psicológico, social e individual,
Só terá evolução  quando conseguir enxergar  nas opiniões   dos outros a beneficência
Perceber  os acertos e os erros,
Elaborando estratégias,
 Filtrando informações,
Instruindo os que necessitam,

 “Enfim construindo o ser humano.”

Sua memória é falha desde sempre


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  Suas mãos estão um pouco enrugadas e sua memória não é tão boa como antigamente. O azul dos olhos não é mais tão forte e ganha hoje tonalidade cor cinza, apagado talvez até mesmo triste. Será que ela está me reconhecendo? Será que ela sabe quem sou eu?  Tenho eu minhas dúvidas, assim como tantos outros também deve ter. É uma pessoa tão calada, tão observadora, tão imponente.
  Será que eles não lembram mais de mim? O que foi que eu fiz pra me abandonarem desse jeito?  Quando eu era jovem todos estavam a meu lado, comiam da minha comida, bebiam da minha bebida, mas agora poucos que vêm me ver. Será que eles estão vindo e indo embora e eu me esquecendo deles? Quisera eu que fosse assim. Nesse lugar me tratam bem, tenho comida na hora certa, meus remédios sempre são me dados pontualmente às sete e meia da manha. Trocam minhas roupas também, pois infelizmente nem me vestir sozinha eu consigo. Fico pensando será que o velho não é mais pessoa? Será que a gente tem prazo de validade? Parece que sim, pois depois de certa época os olhares que chegam até mim se assemelham aos de desprezo, se parecem com os de descaso. Acham que eu sou um fardo? Acham que eu sou um fardo.
  Eu não sou um fardo, eu fui, eu sou e eu continuarei sendo enquanto viva estiver, ou mesmo após a minha partida, uma pessoa. Uma pessoa que pensa , às vezes com um pouco de dificuldade de fazer conexões mentais, confesso, mas nem por isso menos pessoa. Se me ajudarem sou até capaz de dar alguns passos. Passos curtos, mas ainda sim passos, dentro das minhas limitações.
  Eu tive filhos e nem sei onde eles estão, o que eles estão fazendo. Os meus meninos que quando se machucavam vinham correndo até mim gritando: - Mamãe, mamãe! , e eu fazia um curativo, passava algum remédio, ou nem passava e num instante lá estavam eles aprontando novamente, subindo em árvores, comendo manga e tomando leite... Como eles eram danadinhos. Quando adolescentes saiam e no início até me falavam onde iam, e até a hora que iam voltar. Eu aguardava-os aflita, sempre pensando nas hipóteses mais diversas. Tinha medo deles se perderem no mundo, deles se perderem de mim, acho que eles se perderam, pois hoje quase nunca podem vir me ver. Torço eu para que realmente não possam, caso contrário a verdade não seria muito fácil para meus ouvidos e principalmente para o meu coração.
  Saiba que mesmo estando eu tão abandonada, e mesmo tendo criado tantas pessoas, por mais que pudesse ficar indignada com tal situação tudo que eu mais queria era vê-los uma vez mais, reunidos, brincando debaixo das mangueiras ou brigando por causa do maior pedaço de pão. Queria vê-los com o prato na mão, com o copo de café quente do qual saía até fumaça e eles assopravam. Queria poder vê-los descalços de short curto e de camisa de botão, camisa que eu mesma fiz na minha velha máquina de costura. Minha máquina de costura! Tenho saudade dela também. Foi com ela que consegui fazer os consertos das roupas dos filhos de minhas vizinhas. Estes consertos que me garantiam uns trocos. Talvez minha máquina de costura ainda esteja em minha casa, isso se minha casa ainda estiver de pé.
  Minha casa tinha um alicerce alto feito de pedra. O telhado era de telha curva e as paredes eram de “tapume”, acho que ninguém mais sabe o que é isso, mas eu sei e sei bem. A gente passava dificuldade, as vezes sentíamos até fome, falta de alguma coisa qualquer. Mas a gente tinha companhia, zelo, carinho. Não que hoje esteja eu mal cuidada, ou que tenha algo a reclamar do modo como me tratam aqueles que me fazem companhia. Mas não é a mesma coisa, eles me chamam de senhora, de dona, ou mesmo pelo nome. Tem muito tempo que eu não ouço a palavra mãe, pelo menos direcionada a mim. Às vezes escuto de longe alguém falando – Mãe, mamãe! Meu coração enche de esperança, ele dispara (ele ainda dispara), porém quando olho pra trás, não é comigo, mas com outra velhinha. Fico  feliz por ela, mas triste por mim, sinto uma pontada de inveja. Não demonstro, ainda que de vez em quando deixe escorrer alguma lágrima, depressa enxugo,  pego meu tercinho e continuo rezando.

   O ser humano é cruel, e eu também fui reconheço. A gente esquece os nossos “velhos” por que temos a ilusão que seremos jovens para sempre. Doce ilusão. Agora eu já estou de partida e provavelmente poucos notarão quando eu me for, até por que as pessoas que eu convivo hoje em sua maioria provavelmente partirão quase junto comigo, diante disso só tenho mais um pedido a fazer, talvez um pedido que nunca vai ser atendido ou colocado em prática: - Por favor, se lembrem de que nem todos chegam à velhice, mas os que chegam geralmente têm a sensação de que em outra época esqueceram-se de que um dia se tornariam velhos e isso faz lembrar que todos nós, e não só os idosos têm esquecimentos e problemas de memória. 

Acorda Everaldo!

  Maria era uma mulher como muitas outras de classe média baixa, casada, mãe de quatro filhos, moradora de uma área não tão bem favorecida economicamente. Pra ser mais sincero tal área não era nem minimamente favorecida economicamente. Maria levantava cedo, passava café, e colocava o pão na mesa; de vez em outra tinha manteiga, outras vezes não. Everaldo, seu esposo, levantava um pouco depois da companheira, pois havia aprendido que para o casamento dar certo a mulher teria que levantar mais cedo que o marido e se deitar mais tarde que ele, foi sempre assim, com os pais deles e com os pais dos pais deles.
  Quando tinha, Maria até passava a manteiga no pão para o marido, e enrolava seu cigarro de palha também, alem é lógico de separar a roupa que ele iria usar. E assim repetia o ato cinco vezes, pois assim como o marido, todos os quatro filhos eram homens e tinham que ter alguém que os tratasse “com carinho”. E assim iam crescendo cada vez mais parecido com o pai. Infelizmente.
  Após todo o ritual do “café da manhã”, ela ainda retirava a mesa, e recolhia as migalhas que poderiam ter sobrado sobre a humilde mesa, para deixar o ambiente pelo menos limpo e organizado. Lavava os copos, secava os copos, guardava os copos.
  Pedia para os meninos trocar a roupa para que pudesse ir para a escola com o uniforme alvejado, coisa que ela já tinha feito antes, até por que alvejar roupa é trabalho para uma mãe fazer sorrindo. Depois que todos já haviam de ter saído de casa Dona Maria poderia então, tranquilamente tomar um café e comer um pãozinho (se ainda tivesse), para só depois poder ir trabalhar.
   Agora Dona Maria já podia ir pra casa de sua patroa, era pertinho, se o transito ajudasse até as nove e meia ela já estaria na portaria do prédio no qual prestava seus serviços. Eram só três ônibus.
  Chegando no prédio, encaminhava-se para o apartamento 301, e já começava a limpeza, (não antes de preparar o cafezinho da “sinhá”); era chão pra lavar, vasilha pra guardar, almoço pra fazer, compras de supermercado, janelas pra tirar a poeira, crianças pra buscar na escola, ouvido pra ouvir as reclamações da “sinhá”... Ufa! Haja disposição... Mas Maria não reclamava não, pelo menos tinha emprego.
  Final de expediente, corpo cansado, mente cansada, tudo cansado... Mais três ônibus pra pegar pra voltar pro seu “doce lar”, voltar em pé, por que nesse tempo certamente não havia mais lugar em nenhum dos ônibus para que ela pudesse sentar.
Resultado de imagem para dona de casa  Desce da última condução, abre o portão: já tem menino na porta perguntando para a mãe onde está sua toalha, e outros lá dentro reclamando que estão com fome. E o marido? Este já está de banho tomado, com a TV ligada assistindo algum jornal, daqueles com bastante tragédia. Everaldo deve estar com fome, deve ter trabalhado bastante, serviço pesado.  Bem que ele podia ter colocado as crianças para tomar banho, ou pelo menos lavado os copos que sujou quando chegou a casa... Everaldo, por favor, “né”, o que custa colocar a toalha molhada no varal? Mas o Everaldo ta cansado, trabalhou o dia inteiro, (certo que a obra que ele está fazendo é do lado de casa, e que com cinco minutos ele já está em casa) deve estar cansado.
   Mas e a Dona Maria? Será que ela não está cansada de tanta labuta? Certamente. Será que ela não fica indignada em ver o marido deitado no sofá assistindo televisão enquanto ela ainda nem banho pode tomar e ainda terá que preparar o jantar que todos vão comer sozinha? Mas o Everaldo deve achar um absurdo ter que “ajudar” a esposa nos afazeres que são coisa de mulher.
  Acorda Everaldo! Já está na hora de você ver que sua mulher também trabalha e que a carga horária dela é estendida. Acorda Everaldo! A coitada da Maria não é de ferro, ela cansa! Acorda Everaldo! Se com seus pais e com seus avôs era “normal” esse comportamento hoje não é mais. A Maria trabalha Everaldo, tanto quanto ou até mais que você.
  Quantos são os “Everaldos” ou as “Marias” que nos cercam? Será que ainda precisaremos de muito tempo e de muito debate para que tenhamos uma situação de igualdade? Parece inacreditável que convivamos com isso e que na maioria das vezes continuemos calados. É mais fácil pro Everaldo que a Maria se cale. Até por que se as “Marias” se calam os “Everaldos” fingem que tudo está normal,  e com isso continuam sendo os “monarcas”. Igualdade não é questão de ceder a caprichos, é questão de reconhecer que todos, humanos que somos, temos as mesmas probabilidades de ficar cansados.

Não sejas tu “Everaldo” e também não sejam “Marias”!


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Menina na janela

A menina tá na janela
tão bonita, tão bela
tá pensando em não sei quem
talvez em muitos, talvez em ninguém

                                                           De mansinho lá vai o seu tempo
                                                           um dia após o outro, vai passando
                                                           e nem percebe, e quando nota desespera
                                                           tempo corre e não espera

Entre um livro e outro
entre um caderno e outro
Para, pensa, retoma a leitura e para novamente
Não sabe se tem medo, ou se tem coragem
Só sabe que tem vontade
                                                         
                                                         Lembra dos tempos passados
                                                         da escola, dos amigos
                                                         e até dos inimigos
                                                         Se é que pessoa tão doce possa ter algum

Lembra e chora,
Seu choro não é de tristeza
é de saudade antecipada
é de tamanha incerteza
                                                     
                                                       Fecha os livros, liga o televisor
                                                       muda de canal,  volta pro canal anterior
                                                       Não sabe se senta
                                                       Não sabe se deita
                                                       Mas o sofá continua lá. Imóvel

Levanta-se, vai até a cozinha
Toma um café,
Um não, vários
Volta pra sala, abre a janela
Volta pra janela... Volta pro passado.

                                                       Sente vergonha e nem sabe o motivo
                                                       queria ser diferente
                                                       queria estar diferente
                                                       Mas não sabe de que quer ser ou estar diferente
                                                   
  Talvez queira ser mais notada
  Talvez queira estar em seu canto
  Sem ser incomodada
  Ainda que seu maior incomodo esteja em seu interior

                                                     Mas são tantas cobranças
                                                     São tantas expectativas
                                                     Que parece infindável aquele incômodo
                                                     é um queimor, é um problema
                                                     Problema não encontrado não pode ser solucionado.

É tanta agonia
que a coitada de noite e de dia
Só pensa em não pensar
Mas quanto mais evita mais se lembra
E isso lhe traz ainda mais desalento

                                                     Desalento que dói por dentro
                                                     que esquenta, que esfria
                                                     que machuca, que arde
                                                     mas que também motiva

Motiva a procurar solução
e não só a esperar por ela
a correr atrás de seus sonhos
ou pelo menos descobrir quais são seus sonhos

                                                        Menina, você não está sozinha
                                                        tu tens tudo que muitos querem ter
                                                        tem um lar, tem companhia
                                                        tem inteligência, e pode ter também alegria
                                                        tens sonhos, utopias...

Menina, pode ficar  na janela
pode pensar no "anteontem"
Não tenha pressa
Ainda "tá" cedo
Você tem tempo, até mais que medo

                                                    Você ainda pode continuar sonhando
                                                     Pode também nem sonhar se não quiser
                                                     só te peço uma coisa menina:
                                                     Continua com esse sorriso,
                                                     Continua sendo que tu és...
                                                     
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