quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

A ponte quebrada ainda é ponte

  Incrível ou entristecedor é o modo como são dadas as relações de convívio em nossa sociedade, se por um lado a rotina faz com que tenhamos segurança, por outro nos acomoda. E vamos vivendo em um buscar constante de algo que nem ao menos sabemos do que se trata, por vezes criamos a ilusão de que a estrada está pronta e só nos resta segui-la, desviando dos obstáculos que todos já conhecem. Treinamos, pois, o mesmo jeito que todos os outros tiveram para tentar solucionar algo tido como empecilho no decorrer de sua jornada. 
  O gosto por vezes amargo demais de uma possível derrota começa a ser sentido antes mesmo daquela se tornar concreta. E por não raras vezes deixamos de chegar às rosas por medo dos espinhos. Esquecemos pois que o líquido retido também pode nos fazer, tanto mal ou até mais do que a sensação de dor caso inevitável fosse o rasgar do possível pontiagudo. Evitamos uma dor, ou apenas a alimentamos? 
  Enquanto o turbilhão nos assola, e nos pega em momentos de reflexão, do lado de fora há um jardim cheio de perfume, de rosas e de espinhos. Enquanto o portão se mantém trancado, a chave está guardada em nosso bolso. Hesitamos pois em usa-la, por medo de perde-la ou de quebra-la. 
  Mas por que temos tanto medo de perder ou quebrar uma chave que tanta dor nos traz ao nos deixar presos em um ambiente interior que não nos conforta? Será mesmo que exista tal chave, ou será que o que prende a porta não é nada mais que um velho cordão já sem fibras suficientes para amarrar o que quer que seja? 
  As limitações pelas quais passamos são revestidas de um pudor desnecessário, e o desnecessário passa a ser poeira, que se acumula e aos alérgicos é como veneno. Não traz consigo a elegância e o perigo da mais bela espada, mas esconde as doses que matam aos poucos. E o que nos serve de proteção nos priva. E se nos priva é por que não nos protege, mas nos bloqueia. 
  Longe de mim ou de qualquer forma do meu pensar, lançar de antemão um caminho perfeito, pois assim estaria não mais do que perpetuando o que tenho como crítica. Não há solução findada para nada que nos prende de nós mesmos; A tomada de consciência é mais do que fundamental. 
 As vezes em cada percurso haverão pontes diferentes, e algumas dessas pontes podem estar quebradas, ou mesmo em dias de chuva, a enchente estar tão forte que a ponte nem ao menos possa ser vista. Mas isso não significa que ela não exista. Por vezes o que é necessário é escoar a água, ou consertar a ponte. O estagnar-se de frente ao monumento é aceitável pelo período de tempo suficiente para que as águas abaixem. Porém chega uma hora que ou se concerta a ponte, ou se atravessa ainda que um pouco molhada, pois se esperarmos demais pode ser que hajam novas tempestades, e depois de cada tempestade o ponte volte a ser coberta pelas águas, ou mesmo volte a perder partes fundamentais para que seja possível a travessia. 
  O que nos faz ter coragem para atravessa-la ou mesmo para ter atitude de conserta-la é, não a certeza, mas a possibilidade de do outro lado da margem estar um local um pouco melhor. Talvez por não conhecermos tal lado criemos expectativas para serem frustradas ou novos medos que nos façam ficar por demasiado tempo do lado que nos traz uma falsa segurança. 
  Pode ser também que com o tempo, novas tempestades ultrapassem a capacidade de suporte da obra, e a carregue consigo, evitando logo a possibilidade de de conhecermos o outro lado daquilo que pode ser o inferno ou o paraíso. Tenho por mim que a frustração de não conhecer, querendo conhecer, seja maior do que a possível frustração de um arrependimento. 
  Pode ser também que ao lado da ponte haja outros caminhos, que possam ser seguidos, mas que muito provavelmente levem a mesma ponte, uma vez que em áreas onde há um rio de proporções arrebatadoras dificilmente haverá apenas uma ponte. Logo pode ser que tomando novos caminhos, ainda desconhecidos tenhamos a falsa impressão de que estamos caminhando para a paz, enquanto estamos apenas postergando o enfrentar da ponte, ou o desabar da ponte. 
  Não há nada mais perturbador que escutar o barulho das águas, enquanto sabemos que precisamos atravessa-la. E ainda é pior quando temos a sensação que a ponte pode desabar a qualquer momento, tanto que alguns aventureiros se arriscam e correm por cima da ponte por não mais suportarem esperar, e maravilhosamente alguns conseguem chegar do outro lado. Os que não conseguem talvez aprendam a nadar e cheguem do outro lado assim como àqueles que com medo, mas com coragem e altivez passaram pelo conturbado caminho. 
  É preciso que deixemos pra traz o peso que nos coloca em risco ao estar em cima de uma ponte frágil. É preciso que avaliemos se nos é necessário passar pela ponte, por que não suportamos o velho lado, ou se temos coragem e vontade de conhecer o novo. É preciso que consertemos as nossas pontes interiores, e é preciso que comecemos a viver não pelo caminho da certeza mas pela esperança do que nos pode trazer mais paz. 
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terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Onde está o meu Natal?

Os olhares continuavam os mesmos
E os sinos não mais badalavam
O velhinho parece não usar mais o gorro
Pois a descrença lhe nega a existência

E se desejamos um Natal Feliz
não mais sabemos o que dizemos
E a magia que era tanta
Hoje não passa de fase pronta

Feliz Natal! Diz o carteiro
Feliz Natal! Diz o cara do Jornal
E o colega do trabalho
E o irmão, e o desconhecido também

As luzes agora pouco nos emocionam
E as cantigas o que são?
A pressa parece ser a companhia
Passa-se a data, ficam-se os quilos

O que antes pode ter sido reflexão
Hoje se torna festa, ou nem isso
Difícil se torna sentido imaterial
Nem presente recupera o brilhar de um olhar infante

Será que é por que crescemos?
Será que a magia se perdeu?
Será que algum dia ela já existiu?
Talvez tenha sido invenção

Os trenós não mais se estacionam na imaginação
E os especiais de Natal já não dão caráter de iniciar
Nem mesmo a árvore ou o presépio
E o espírito se perde,  e o que fica é saudade

Saudade do Natal com chuva
Saudade do calor da data
Saudade do velho pé de Jambo
E da velha parreira com seus dois cachos

E da véspera então? O que dizer?
-Mãe! Que dia que vamos fazer o presépio?
- Mãe! Vai assistir a missa do galo?
Oh, isso sim era Natal!

Se nascia a esperança de um novo tempo
Se olhar pra manjedoura era de simplicidade
Havia pois o mais belo dos Natais
E era real... E era doce...

E ao ir nas casas de nossas avós, corríamos para a sala
E pedíamos para ligar os seus "pisca-pisca"
E olhar já dizia: - Não meche, pois isso quebra fácil!
E o olhar era inocente.

As histórias eram tão convincentes
E o dia era tão esperado
Podia ser o mais simples
Que era o mais ornado.

Ornado de sentimento,
Ornado de ilusão....
Parece que ser criança é o mais genuíno
É também o mais verdadeiro estado

Parece que ser adulto é o mais seco
É também o mais descrente
Onde procuramos tanto sentido
Onde encontramos tão pouco...

Onde queremos o que muitos querem
Onde esquecemos de aproveitar o mágico
Onde deixamos de acreditar no mágico
E que tudo se torna pouco... e o pouco se torna nada...

Onde o Feliz Natal é mecânico
Onde o estar feliz parece inatingível
Como se fosse errado imaginar
Como se fosse inaceitável fantasiar...

Dentro dos mais variados estigmas
Dentro dos mais Belos Natais
Nenhum se assemelha à magia do olhar de uma criança que acredita
De uma criança que espera ansiosa pelo tal dia

Talvez o mais triste é sabermos que isso provavelmente se perderá
E que daqui a algum tempo, também os novos adultos estarão a questionar:
Mas o que é o Natal?
Onde está o meu Natal?
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Os passos

É claro que se pode recomeçar depois de cada negativa
E é certo que pode-se pensar, avaliar
Se a felicidade brota, ela reluz e se faz presente
Enquanto lágrimas secam, lágrimas se criam

É claro que se pode olhar para frente
E por isso tem sentido, faz sentido
Se faz vivos os sentimentos
Se fazem reais as ações, emoções.

O que um dia pode ter sido ilusão
aos poucos vai tomando forma
O olhar de canseira se fecha
E reflete, e vive (se vive ou se morre)

Ouve-se o grito e o berro
Escuta-se de tudo muito pouco
Filtra o que traz o bem
Palavras que sobram, palavras que faltam

Muitos que muito falam
Muitos que nada dizem
Deixam pois o determinismo constante
Da inação se perde o caminho

E o que foi pensado para se tornar real
Se perde, se esfarela, se definha
É ouro que se vai, e ouro que se fica
Emite-se menos luz... se cai...

E a luz de ser presente
De estar presente se dissipa
E o que se quer são asas
E o que se pode são asas

Se bem sentes, se esquiva
E se priva, e se maltrata
E o pouco que era muito
Cada vez mais se míngua

A decisão que incomoda o ser
O pacato que finda o ter
O calor que pleno se torna frio
E o frio por hora compões os jeitos

E ao se servir do vinho
Talvez se quebre a taça
Por que do tudo percebe-se o pouco
E se priva do provar da mais doce das uvas

E o que era para ser eterno
Traz consigo o áspero sinal
O entender de um ser com medo
Faz e torna-se o próprio medo.

E aquilo que tanto nos aflige
ameaça, incinera
Começa a explodir o torpe
E o torpe mescla-se de importante

Vê sentido no que desespera
Vê razão no que não tem entendimento
Justifica sem ter por saber o que pensa ser correto/reto
E se perde em contradição.

Mas se para percebe que os passos
Não são tão fáceis
E o que vê não é paraíso...
mas sim o que se diz necessidade.

E aos poucos vai caminhando
Tomando senso, e contra senso
E o que deixa para traz são pausas
e o que passa a viver é vida.
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quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Tecidos presos

Deitado no meio dos cortes
Pegue a agulha e costure a alma
Use do que sabe por fio
E de cada pedaço do que precisa por tecido

E se os retalhos podem ser juntados
Devem pois, ser ajustados
Se combinam faz-se um. Ou nenhum
Talvez se colora e se alegre.

Que os olhos se abram aos carretéis
E que o mundo se perceba diverso
E as linhas dançantes tenham movimento
Pois são da obra, a essência

Ligam-se os pedaços, materializa a união
Mas se desprende, se desmancha
E se desmancha, se perde. Talvez não.
Que leve o tempo incerto

Que comova cada estrutura
Onde os pedaços sejam emoção
E a emoção seja de sentir
Ainda que bem, ainda que mal.

Montada será sua veste, ou sua nova coberta de retalhos
Pequenos novos pedaços
Outros talvez um pouco mais gastos
Mas nem por isso insignificantes

A cada nova vivência,  novo sorriso
Cá estamos costurando,
E se cai alguma lágrima, essa se evapora
Pois não pode ser motivo para desengano

E no final, não haverá final
Pois a cada novo pedaço de pano
Esse aos outros se junta
Aumenta-se o o infindável

Torna-se cada vez mais bela
Mais útil, mais verdadeira
Reflete a obra o seu criador
E o seu criador ela o é.

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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

O Poder Perpétuo prisão se torna.

    No meio de tantas turbulências que nos atingem quase que diariamente não são raras as vezes nas quais perguntamos sobre o que tem nos dado sentido, e mais do que isso confrontamos sobre o que somos e qual a aplicabilidade do "ser algo" ou "ser alguém" em nossa vida prática. 
    Vivemos em um meio no qual o poder é tido como objetivo padrão e aquele que se distancia deste muitas vezes se vê frustrado, incompreendido. Tenho no decorrer de minha pequena jornada me questionado sobre o real sentido do que é ter poder, e consequentemente ser poderoso. Ouso-me a pensar que o poder não existe, e se existe é bem mais o medo de o perder do que vive-lo. 
    Muitos na ânsia de alcançar tal objetivo esquecem-se da nobreza do que o dito poderoso pode fazer pelos menos favorecidos, exemplificativamente, para os de menos recursos financeiros, e acabam por se aliar ainda mais a uma série de pensamentos de ordem extremamente capitalistas e usam dos cargos que ocupam para manter influência, ou mesmo relação de subordinação aos que com ele convivem.
     Na Política partidária então isso fica bem mais evidente. Não por poucas vezes nos confrontamos com um candidato ou candidata que tem um discurso que prega solidariedade e a justiça, mas que quando sentem o gosto doce da suposto poderio deixam se dissipar de todo seu discurso revolucionário, ou mesmo começam a fazer alianças das mais improváveis possíveis em nome de uma perpetuação do sentimento de poder. 
    Tal situação cria no mínimo uma indignação, pois faz com que deixemos de acreditar sobre a probabilidade de haver algum dia uma política honesta e transparente, seja ela de qual partido for. 
      O governante que consegue haver para si o "mandamento" carrega consigo a responsabilidade de não se frustar caso perca o posto. O legitimado que carrega consigo falsos amigos em nome do não ter inimigos acaba por mergulhar em um oceano de provações e de cuidado. Ele não dorme pois não poder confiar em seu porteiro, não se diverte por que tem medo de não poder mais se divertir. Não discute por que o seu ponto de vista pode fazer com que deixe de ser amado, se é que um dia foi. Ele também não pode cometer erros, digo , não pode deixar que seus erros apareçam por que o seu ordenamento é perfeito. E se alguém ousa discordar dele, ou mesmo ter uma atitude contra o seu poder ele não vai brigar, e também não vai voltar-se contra o petulante, ainda que sua vontade essa seja. Ele vai buscar para si o inimigo como aliado, e aumentar ainda mais a necessidade de se proteger, já que com inimigos em seu conluio todo cuidado passa a ser ineficiente. 
     Muito enganado é quem convicto se torna de que aquele que toma o cálice de ser senhor, vá sempre agir de modo agressivo e intimidador. Não, ele não vai. Muitas vezes o que se percebe é justamente o contrário. Se torna mais domesticável, e aqueles que contra ele apontavam o dedo e o maldiziam se tornam alvo mestre, não de suas ofensas, mas de suas delicadezas. 
      A relação de poder podre se torna, (ainda que assim sempre tenha sido) e a humanidade é deixada de lado em nome do status financeiro e da colocação social. O pouco que tinha, em dinheiro, em pequeno espaço de tempo muito se torna, e o alguma coisa que algum dia possuiu de princípios ou defesa em pouco tempo nada se torna.
   Começa então a acreditar que todos o seres enquanto humanos possuem um preço, mas esquece-se que preço nem sempre é o mesmo que valor. 
Espero eu um dia que a compreensão do que é realmente valorativo esteja bem distante do que é dito rentável, e que as pessoas possam estabelecer relações baseadas em confiança e não pela quantidade de recurso financeiro que o poderoso possa dispor em prol da manutenção do poder. 
    Toda máquina possui possibilidades de apresentar falhas, e todas as falhas precisam, podem e dever ter solução. A passividade porém posterga a solução dos nossos problemas, e geralmente os nossos problemas são tidos como problemas de ninguém, e os problemas de ninguém não podem ser resolvidos por falta de legitimados para arqui-los. Enquanto o falso poder é tido nas mãos daqueles que tem medo de perde-lo, e com ele se fazem reis em terra que a monarquia já foi revogada. O falso rei continua cercado de guerreiros que na primeira oportunidade poderão atingi-lo e tomar-lhe o poder. Caso perca terá medo de viver como o falso monarca que talvez tenha ajudado a derrubar. 
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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Tenha pressa, viva lá fora



Cuidado com o que me assola
Pois lá pra fora agora eu vou
Vou me embora, vou me embora
E se me olhar verás que vou

Tenha pendão na esperança
Que assim também o tenho
Já mordi diversos casos
Já tomei vários venenos

E a pressa me consome
Me consome e me motiva
Vou em busca do que quero
Quero a busca do que mereço

Se não é tão mais menino
E se queres gritar lá fora
Se não posso ser motivo
Já não quero e vou e embora

Abro a porta,  o degrau é alto
Se o sangue corre ao joelho , é por que estou cansado
E se fica se acaba, não se fere mas é ferido
E se é ferido pouco adianta. Pra que tanto cuidado?

E a briga é interna, é ferrenha, escaldante
E o sorriso anda frouxo,
E os passos ficam curtos
E o choro corre ao rosto

Não se pode olhar pra trás
Mas na frente tem um espelho
E o espelho que reflete amargura sem pudor
Fere a alma, fere a calma, fere os sonhos de um sonhador

E o sonhador o que é se não pode mais sonhar?
Vira estátua, vira múmia, vira tudo, vira nada
E se acaba, e se afronta
Cria tempo... mas que tempo?

Se a cabeça se inflamou
Se o peito não sustenta
Se seus olhos já estão cansados
Sua voz já não é tão trêmula

Chega de horror,
Bate o pé , esbraveje...
Dê o grito, e se liberte
Vou me embora. Vou me embora

Tem uma flor no campo
E a borboleta esta na janela
Voe logo borboleta
E se aconchegue nela

E se o vidro da janela, de repente se fechar
Ache a porta borboleta e na flor vai-se morar
E se tentares lhe prender
Dê a volta borboleta que ainda esta em tempo

Por que as flores se murcham
Se acabam e caem ao chão
E a borboleta que se acomoda
Vive só em ilusão.

Do que adianta a calmaria
Se logo haverá tempestade
Deixe-me molhar agora
Por que depois pode ser tarde.

Vou me embora, vou me embora
E não é por que eu quero
Mas por que me deixam ir
Vou me embora, vou me embora.




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sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Conversa com água, coisa de louco me parece

Água que sai da torneira
que corre no rio
e atravessa o moinho
Conte-me: Pra onde tu vais?

Estou indo seguir meu destino
Devagar ou depressa
Límpida ou cor marrom
Vou me indo sem demora

Água que passou no corpo
da mocinha que se banhava
Que enxaguou e foi-se embora
como se nunca estivesse ali

Sou dos motivos o mais belo
Da existência a mais útil
Dos elementos o mais instigante
Sou menos real a cada instante

Mas és pois o mistério
E como mistério se faz presente
Se te olho me acalmo
Se me acalmo, me vêm barulho

Já estive em nuvem
E bem lá me sentia acomodada
Resolvi descer a Terra e ser útil
Requei as plantas, encharquei o solo

E agora vai-se embora
Mas se ficasse seria mais importante
Faça companhia à terra
Aos filhos de seus acalentos

Não fico  pois não quero nem posso
Tenho que seguir em frente
Aqui sou desperdício
Sou vista ou nem vista, sou nada

Como podes dizer isso?
És tão ingênua, tolinha
és tu vida, és motivo
Sem tu, nada se tem

Vou-me embora ver o mar
Ser o mar, tornar-me sal
Pois do doce já estou farta
De ser usada e descartada

Mas se doce é mais viva
Mais vida e satisfação
Não te entendo coisa abusada
Não podes ver o que me dizes?

Posso até estar maluca
Mas assumo esse risco
A sanidade me apavora
Viver com isso já não me deixa em júbilo

Se sou mais útil, não me importo
Ser feliz é o que quero
Quero ver a vida e ser Sal
Pois o salgado me descreve

Menina! Que absurdo!
E os outros? Não te preocupas?
Fique aqui, continue assim
Todos precisam de precisar de ti

Pouco me importa
Estou farta de ser calmaria
Quero desmontar minhas ondas
E elas eu quero ser

Não tens por acaso medo?
E se o novo for mais cruel?
Se de repente não puder voltar?
E se confinada a ser Sal, pra sempre for?

Vejo que muito esperto não podes ser
Se algum dia me arrepender
Serei feliz e plena por ter tido coragem
coragem de me arrisca e de enfim ser feliz

Coragem de descer pelos rios
de ser rio, de ser cachoeira
Coragem de ser e estar mar
De viver, ainda que por um instante

E ainda que me amedronte
E que eu possa querer volta
E ainda que eu não consiga
Poderei então me evaporar.

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quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Três


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Quarto escuro é precisão
Água que corre conforta a alma
Alma que sofre comporta em calma
Calma que se perde na multidão

Barulhos intensos de casos mal resolvidos
Passos na escada e pegadas na terra seca
Sangue nas veias e areia nos olhos
Vida em desuso, sobrevida se torna

Que a chuva passe logo
E a tempestade vá se embora
Que possa brilhar um Sol
E que o Sol brilhe em verdade

Murmúrios sejam deixados
Passado seja passado
Coragem possa chegar
Ainda que para isso  precise cuidado

Ouça os cantos de paz
E as palavras de aconchego
Tente não se virar pra trás
Siga pois em frente

Ser o melhor se torna inútil e útil
Não somos moedas de troca
Moedas de troca nos transformamos
Dia por dia, hora por hora

Céu azul se faz  vermelho
E pequenos animais em temíveis feras
Júbilo e angustia, tudo se torna irreal
Sentido parece não haver .Mas há

Benditos comportamentos carregados
malditos dizeres ocultados
Ancião de inegável experiencia é criança que sorri de inocente.
Onde as rugas acusam idade, e olhar demonstra receio

E nesse jogo de certezas
emaranhado pela pura indecisão
invadido pelo relento da ilusão
Lá se vai: o homem, o rapaz e o menino

O homem cheio robustez não quer mais chorar
Não pode mais derramar lágrimas
Se sente por dentro seco e cansado
Por fora denso e travado

O rapaz se sente chato em um mundo desleal
Como um peixe fora d`água
Vai cavando e fuçando a procura de seu mal
Se encontra desespera, se não encontra não sossega

O menino é isolado, não vê graça ao brincar. Não brinca
Deixado de lado, deixa-se de lado
Só queria nem ter nascido
Só queria ser de pedra, ser irracional.

Se mesclam, e entram em discussão
Se desmembraram em diversas fases
Mas sempre serão apenas um
Cheio de tanta imperfeição, e ilusão.


E assim vai se indo
Se perguntando se vale a pena
Se a vida que é tão serena
Pra um assim também será

Mas se às vezes chora tanto
Não é só de desespero
talvez sejam lagrimas retidas
derramadas apenas ao acalento de um travesseiro.


















terça-feira, 7 de novembro de 2017

Sonhos Reversos

De noite temos sono
No sono aparecem sonhos
nos sonhos surgem medos
Medos refletem realidade

Alma que sai do corpo
Enfim assim liberta está
Voa, paira e observa
Perde-se a vida por momento algum

Repentinamente visualizamos montros
E se dormindo, temos coragem
E os pulsos começam a inflamar
Demonstra o sopro da vida de um ser em morte

Ouvia seu choro enquanto dormia
Distante , e tão perto ali está
E se no repente leva um susto 
Acorda e se sente igual

Se embaralha em suas promessas
Se invoca de seus próprios sentimentos 
E seu vazio se preenche de ardor
e seus pesadelos trocados por cor. 

Místico se torna real
e ainda que pareça cruel
Diferente do que foi idealizado não pode ser
Isto se em algum momento o fora. 

Brota no centro avidez 
Condena-se a carne pelo que foi sonhado
E o ser pelo que foi praticado
Pelo que não foi falado

Mas no fim não passa de um sonho
de um tempo encorajado 
De um sofrer que foi arrebatado 
e que se tornou luz e paz. 

Sonhos são reflexos de nossa realidade
Nossa realidade é anunciada 
Os fatos se entrelaçam
Físico e espiritual em mãos dadas 

Dormir nada mais é que acordar para um novo mundo
É mais do que descansar de uma realidade
é viver uma outra dimensão 
E esse novo nem tão  assim o é. 

E se queremos desconectar 
nos conectamos ainda mais 
e se queremos descansar 
buscamos novas preocupações 

Vemos o quão complicado é ser
Vemos quão complicado é o ser 
Que sonha em esperança 
e se frusta com "irrealidade"

Que desenha sua realidade
enquanto borda sua ilusão 
Cobra transparência, 
E se esconde atrás do que parece ser. 

Que dorme por medo de fracassar
e fracassa por medo de tentar 
Que sonha em ter algo inigual
Mas sempre mais normal procura ficar. 

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quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Era

Era uma manhã escandalosa de seres incompreendidos
Um rememorado de inutilidades
Era um tempo sombrio no meio de um arco de cores
respingando cinzas de modo vagaroso e intenso.

Um turbilhão de emoções
Um relampejar em tempo seco
Muitas vozes em sua cabeça 
Pouca paz em seu interior

Um olhar amarelo em um sorriso inexistente 
Algumas lágrimas de pimenta 
Outras de saudade, de sentimento
Ou até mesmo de angústia pelo não dito

Cabeça cheia de ideias,
Corpos cheio de amor
Vida repleta de pessoas 
Pessoas repletas de dor

Queria entender se algo tem sentido
Queria gritar e ao mesmo tempo ficar calado
Queria esquecer muita coisa 
Queria relembras de muita coisa

E se de repente sentisse que pudesse existir felicidade?
Mas se tão logo tivesse medo de voltar à decepção?
Pode ser que o que faltava fosse não mais que atitude 
Pode ser que o que sobrava fosse tempo de olhar pra trás

Conseguindo apagar os tormentos
Sua vida seria feliz?
Não seria! Tormentos e mais tormentos
Fazem parte de sua vida, mais do que a própria vida

A escuridão se acaba com a luz do dia
Tristeza terá fim com o sorriso de uma criança 
Dor é finda por momentos de prazer
E a saudade se evapora com o abraço do reencontro

Se as portas ainda está aberta
Ou se um raio de luz conseguir atravessar a fresta da janela 
Pode ser que ainda exista esperança 
Pois enquanto houver passagem, tudo poderá ser recuperado.

O confuso as vezes se torna pelo ímpeto da simplicidade 
As palavras malditas ferem 
Mas as escondidas destroçam 
E um episódio não dito acaba quebrando o vaso

E o vaso que está quebrado?
Este pode ser remendado? 
Talvez um só não consiga , ou até consiga 
Mas com apoio pode ser mais fácil. Talvez. 

Em certos momentos não encontramos palavras certas
E nos sentimos impotentes por não ter o que dizer
Tentamos usar palavras e argumentos que não existem
E acabamos nos enrolando ainda mais 

Nem sempre o que questiona quer ouvir algo
Nem sempre o que chora quer deixar de chorar
Ou mesmo consiga deixar de chorar 
Talvez seus males antecedam sua existência

Seus conflitos não precisam de explicações 
Não existem explicações 
São apenas seções de masoquismo
Auto lesionamento talvez seja um vício.

Não chore, não fale, não viva
Não sonhe, nem coma, nem nada
Ordenações, mandamentos, castigos
Aos berros, aos gritos..

E assim vai levando o que se chama de vida
Tentando esquecer de um passado 
Sem ao menos entender o porquê de tanta coisa ter vivenciado
ou mesmo por ser privado, de ser liberto sem ser amargo. 



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segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Converse com você mesmo

Precioso menino, como está difícil entender tanta coisa. E como está difícil se manter de pé depois de passar por tantas coisas. Seus conselhos que um dia tanto me ajudaram ficam as vezes sem sentido e o descontentamento não toma conta de mim, apenas ressurge. Menino, olho para o que eu me tornei e vejo que já escutei muita coisa, e que minha cabeça fica cheia de ideias, e ao mesmo tempo é tomada pelo vazio.
Menino, lembro da última vez em que conversamos e que por alguns instantes eu reclamava de minha vida, e você me mostrava que para todos momentos que possam parecer difíceis sempre chegam outros nos quais o júbilo de outros momentos, um pouco melhores, dão sentido a nossa existência.
Eu falava, eu reclamava, e eu te mostrava minhas fraquezas, você me ouvia,  me acalmava e me dizia que tudo ia ficar bem. Não sei se ficava bem mas pelo menos parecia que sim.
Algumas vezes eram apenas reclamações bestas e sem sentido, rememorações... Outras vezes era um pouco mais complicado e nem você sabia o que me dizer, e assim sendo apenas me dava um abraço e me mostrava que em certas situações a gente não vai saber o que dizer, mas que um abraço pode sim ser sinal de apoio.
Menino, eu tentei seguir seus conselhos e me tornar uma pessoa melhor. Tentei ser aquilo que eu tanto idealizava e tinha como certo. Reescrevi alguns capítulos daquela história que eu te contei e segui em frente mesmo depois de ter passado por tanta coisa. Eu tentei ser mais extrovertido, eu tentei falar um pouco mais de mim, e por achar que isso seria fundamental mudei até minha aparência, pois como bem sabe menino, eu nunca fui feliz. Eu tentei ser, mas acho que falhei. Falhei por achar que mudar o meu aspecto físico conseguiria mudar também o que eu era por dentro. Falhei por pensar que ao  cuidar seria cuidado. E não por poucas vezes pude ter a amarga experiencia de confiar demais, e de me machucar demais.
Menino, não sei se eu realmente mudei ou se eu me auto sabotei. Não sei se tentando ser feliz, pude causar felicidade. Talvez por eu sempre ter me achado, ou por sempre estar perdido em meio a tantos questionamentos eu tenha me enrolado e não por poucas vezes não encontrado nenhuma solução.
Durante algum tempo eu tentei não chorar, em outros tempos chorei muito. Durante um tempo tentei apoiar, em outros precisei de apoio. Acho que não tive.
Acho que esperei muito, e criei muita expectativa me idealizei como um ser perfeito. Tentei ser esse ser perfeito, por mais que este nunca tenha sido explicitamente meu objetivo.
Fui acusado de tentar parecer perfeito, por tentar viver com um pouco de paz, e com um pouco de aceitação.
Peço desculpas menino, por ter te deixado um pouco de lado, e por ter te ignorado tanto a ponto de não querer me lembrar da sua imagem. Peço desculpas por não ter sido tão seu amigo, do jeito que sempre foi para comigo. Você tentou me animar por inúmeras vezes. Eu não consegui fazer com que você se sentisse bem e confortável.
Você me ajudou a tentar me tornar alguém melhor, e eu tentei, juro que tentei. Mas vejo que não fui suficientemente bom. 
Agi de acordo com princípios que tive como pilares de minha formação. Fui por isso, por vezes abandonado. E isso não foi bom, nunca foi, nunca será. Provavelmente menino, não é a primeira vez que escuta chorumelas de minha pessoa nesse sentido. Confesso que sou bastante conflituoso, mas também você me conhece bastante a ponto de saber que minhas lágrimas não são de falsidade, e que meus dilemas não foram criados de propósito. Pelo menos, não por mim. 
Confiei demais e vejo que agi assim por não confiar em mim. Por no fundo ter comigo o sentimento de inferioridade, e por, infelizmente, mesmo que você me alertasse tanto,continuar puntuando que eu não merecia algo bom, por eu não me achar suficientemente bom. 
Lembro-me quando criei a capa de proteção e comecei a usa-la, mas esqueci que a capa não podia me esconder de você. Lembro dos primeiros retratos, coisa que eu tinha pavor. Lembro que comecei a me mostrar, algo que eu tinha ainda mais pavor. Lembro que gostei disso, mas que com isso, você foi ficando de lado. Foi ficando a sombra, e aos poucos eu fui me esquecendo do quão importante eram nossas conversas, nossos desabafos. 
Foi preciso que eu caísse mais uma vez, e dessa vez com ainda mais riscos, para que eu começasse a enxergar (de novo) que eu não fui, não sou e nunca poderei ser diferente daquilo que eu sempre fugi ser. Que a vida é cheia de espelhos, e que não adianta me esquivar dos reflexos pois a qualquer momento, tenho me esbarrado em algum. E me esbarro nos espelhos, e os espelhos as vezes são quebradiços e me ferem. 
Não sei se consigo ou se conseguirei algum dia a ver sentido em tantas colocações. Não sei também se um dia você conseguirá me perdoar por ter te deixado de lado, por que na verdade nem eu seu se consigo me perdoar por tamanha atrocidade. 
Você me ouvia, e pra você eu podia mostrar meu problemas, e eu podia ser o grande cara com coração sempre apertado. Com você eu conseguia ser assim, não sei se consigo mais assim ser. 
Hoje, em tal momento não consigo ver sentido em muita coisa. Vejo que errei por esperar do outro o que o outro não esperava em mim. Não sei se fui suficientemente bom, ou se fui um completo fracasso. 
Talvez não tenha sido um fracasso total, só talvez. Gastei muito tempo sendo a positivação do que eu tinha como certo, poupei e não fui polpado. Nem sei se polpei. Pra ser sincero nem sei por qual motivo zelei, por que não sei se zelei, ou se tentei não me machucar ainda mais. Não fui muito vitorioso. 
Não posso dizer que "queira ser diferente" ou mesmo "ter agido diferente" por que tenho certeza (ou nem tenho) que faria tudo do mesmo jeito. Cometeria os mesmos erros, confiaria nos outros e desconfiaria de mim. Talvez por minha vida ter rondado nesse sentido. Talvez por eu nem ter vivido de verdade, ou mesmo por eu não saber o que é viver de verdade. 
As vezes eu seja muito "reclamão" talvez um ser incompreendido. Mas como cobrar que o outro me compreenda se nem eu mesmo consigo ver em mim alguma compreensão? Por quê critico tanto o outro se o que eu mais faço e me criticar? Talvez eu tenha os mesmos defeitos, ou defeitos até piores... Se é que dá pra medir qual defeito é pior. 
Talvez eu chore em silencio por me julgar inferior. E talvez os outros nem me julguem tão inferior assim. Não sei. 
Menino, vou tentar,  prometo, a partir de agora conversar um pouco mais com você, pelo menos pelo tempo que me resta nesse plano. (não sei se longo, não sei se curto). Vou tentar voltar um pouco para minhas origens, e deixar com que o ser incompreendido que sempre fui possa continuar assim sendo, espero eu, de verdade, não me sentir tão culpado por isso. Não estou prometendo, dessa vez, ser mais paciente,  e compreender mais o outro, pois o que realmente preciso é tentar me entender, e me compreender. Já tive, um dia vontade de viver, eu acho. Já tive um dia esperança que a felicidade tornaria-se parte de mim. Está demorando, mas ainda que hoje não acredite tanto em tal sensação, e que tal sensação possa fazer parte do meu mundo, quero começar a acreditar que em algum momento terei enfim felicidade. Seja em qual terra for. 
Obrigado menino, por me escutar, e mais uma vez desculpas por ter te deixado em um canto sozinho... e por ter tentando esquecer que você faz parte do que eu sou, e do que eu vivo, ou pelo menos tento viver. 

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