No meio de tantas turbulências que nos atingem quase que diariamente não são raras as vezes nas quais perguntamos sobre o que tem nos dado sentido, e mais do que isso confrontamos sobre o que somos e qual a aplicabilidade do "ser algo" ou "ser alguém" em nossa vida prática.
Vivemos em um meio no qual o poder é tido como objetivo padrão e aquele que se distancia deste muitas vezes se vê frustrado, incompreendido. Tenho no decorrer de minha pequena jornada me questionado sobre o real sentido do que é ter poder, e consequentemente ser poderoso. Ouso-me a pensar que o poder não existe, e se existe é bem mais o medo de o perder do que vive-lo.
Muitos na ânsia de alcançar tal objetivo esquecem-se da nobreza do que o dito poderoso pode fazer pelos menos favorecidos, exemplificativamente, para os de menos recursos financeiros, e acabam por se aliar ainda mais a uma série de pensamentos de ordem extremamente capitalistas e usam dos cargos que ocupam para manter influência, ou mesmo relação de subordinação aos que com ele convivem.
Na Política partidária então isso fica bem mais evidente. Não por poucas vezes nos confrontamos com um candidato ou candidata que tem um discurso que prega solidariedade e a justiça, mas que quando sentem o gosto doce da suposto poderio deixam se dissipar de todo seu discurso revolucionário, ou mesmo começam a fazer alianças das mais improváveis possíveis em nome de uma perpetuação do sentimento de poder.
Tal situação cria no mínimo uma indignação, pois faz com que deixemos de acreditar sobre a probabilidade de haver algum dia uma política honesta e transparente, seja ela de qual partido for.
O governante que consegue haver para si o "mandamento" carrega consigo a responsabilidade de não se frustar caso perca o posto. O legitimado que carrega consigo falsos amigos em nome do não ter inimigos acaba por mergulhar em um oceano de provações e de cuidado. Ele não dorme pois não poder confiar em seu porteiro, não se diverte por que tem medo de não poder mais se divertir. Não discute por que o seu ponto de vista pode fazer com que deixe de ser amado, se é que um dia foi. Ele também não pode cometer erros, digo , não pode deixar que seus erros apareçam por que o seu ordenamento é perfeito. E se alguém ousa discordar dele, ou mesmo ter uma atitude contra o seu poder ele não vai brigar, e também não vai voltar-se contra o petulante, ainda que sua vontade essa seja. Ele vai buscar para si o inimigo como aliado, e aumentar ainda mais a necessidade de se proteger, já que com inimigos em seu conluio todo cuidado passa a ser ineficiente.
Muito enganado é quem convicto se torna de que aquele que toma o cálice de ser senhor, vá sempre agir de modo agressivo e intimidador. Não, ele não vai. Muitas vezes o que se percebe é justamente o contrário. Se torna mais domesticável, e aqueles que contra ele apontavam o dedo e o maldiziam se tornam alvo mestre, não de suas ofensas, mas de suas delicadezas.
A relação de poder podre se torna, (ainda que assim sempre tenha sido) e a humanidade é deixada de lado em nome do status financeiro e da colocação social. O pouco que tinha, em dinheiro, em pequeno espaço de tempo muito se torna, e o alguma coisa que algum dia possuiu de princípios ou defesa em pouco tempo nada se torna.
Começa então a acreditar que todos o seres enquanto humanos possuem um preço, mas esquece-se que preço nem sempre é o mesmo que valor.
Espero eu um dia que a compreensão do que é realmente valorativo esteja bem distante do que é dito rentável, e que as pessoas possam estabelecer relações baseadas em confiança e não pela quantidade de recurso financeiro que o poderoso possa dispor em prol da manutenção do poder.
Toda máquina possui possibilidades de apresentar falhas, e todas as falhas precisam, podem e dever ter solução. A passividade porém posterga a solução dos nossos problemas, e geralmente os nossos problemas são tidos como problemas de ninguém, e os problemas de ninguém não podem ser resolvidos por falta de legitimados para arqui-los. Enquanto o falso poder é tido nas mãos daqueles que tem medo de perde-lo, e com ele se fazem reis em terra que a monarquia já foi revogada. O falso rei continua cercado de guerreiros que na primeira oportunidade poderão atingi-lo e tomar-lhe o poder. Caso perca terá medo de viver como o falso monarca que talvez tenha ajudado a derrubar.