E ficou um pedaço de caco de vidro cravado no meio do nada
Os anos vão se passando, e com ele a consciência oscila.
Temos por incerteza da meia idade, um emaranhado de confusões
Em um momento, nos sentimos jovens, cheios de vontade. Olhares de Criança.
Cinco minutos, ou cinco dias depois, nos sentimos velhos, cansados...
É como o viajante que busca o seu destino, e no meio da viagem pensa se vale a pena.
Se o cansaço terá recompensa, e se a recompensa também será.
Para o homem, vê a lenta tartaruga que passo a passo, procura seu caminho, e se admira com o ritmo.
Vê na criatura paciência, determinação e vê paz.
Corre o homem por ver os lobos, por sentir-se acuado, desespera. Se corre, se perde em meio ao cansaço.
Já não pode usar a velha desculpa, de ser menino, e se agoniza, por ainda se sentir menino. Vê que a fase tida como adolescência, foi se embora, e com ela tenha levado farelos da infância, que ainda fazia companhia. E se sobrou farelos? Cristaliza e eterniza.
Agora, o que não lhe resta é o gosto de ter vivido, e de não ter se arrependido; e se arrependeu, esquece; e se não se esquece: tolera; e se não tolera aceita e procura viver. Procura ser paz, e ter paz.
Jorra certezas, e também dúvidas. E entra em prosa consigo, vê no tempo os primeiros fios sem vida, e vê na vida, o roteiro desmoronado. Pega o roteiro, e rasga, e volta desde o início do que tem por trazer serenidade. Deixa de ser feroz, pela convicta missão de mostrar a importância do sentir de si, e não o sentir do outro.
E se sabemos que nossos conflitos são pedaços de latas enferrujadas de nosso passado, sabemos que não podemos deixar novos pedaços de latas enferrujarem para estragar nosso futuro. E se procuramos o produto ideal para tirar a ferrugem, talvez fosse mais eficaz não deixar que ela tomasse conta de parte do que somos, e do que seremos.
E se devagar descobrimos nossos dilemas, vivemos em função deles. E se vivemos em função deles, não vivemos, apenas acordamos, pensamos, sofremos e dormirmos. Mas se temos o impacto, e encaramos de frente o que nos atordoa, analisaremos o que nos é possível superar, e buscaremos isolar o que não podemos enfrentar. Seremos plenos, ou pelo menos tentaremos por aquilo que nos é realmente possível enfrentar.
E buscamos motivação constante, justificamos a inação pelo receio da euforia e procuramos estar em paz para não acordar nossos monstros, e se não temos monstros inventamos para que possamos permanecer quietos. As vezes a quietude nos conforta. Mas o conforto é falso, e o falso não pode ser eterno. Quanto mais nos afastamos em consciência, mas nos aproximamos do receio.
E se temos por objetivo, a alegria plena, de uma lugar bonito, perfeito e sem buracos, acabamos por comprar um pacote completo de frustração. E o pacote tem início imediato, pois se buscamos a perfeição encontramos defeitos a todo momento. Mas se aceitamos os defeitos começamos a percebem os indícios das qualidades. Filtramos o que nos é fundamental, absorvemos o que não nos causa ferrugem, e ignoramos o que nos coloca em inconstância, pelo menos é o que deveria acontecer para nos encontrarmos, lá na frente em um local cheio de problemas mas também de soluções.
Não deve existir fórmulas perfeitas para que o padrão de felicidade fosse encontrado, pois geraria a monotonia, e a monotonia é o parente mais próximo da agonia e da desmotivação. E não devemos procurar fórmulas inexistentes, ou padrões a serem seguidos. A cada dia, torno mais real em mim, a ideia de que o se conhecer é perigoso. E algo que nos faz viver sonhos e pesadelos. Porém é a única maneira de delimitar um percurso a ser seguido, de procurar fontes condizentes com o que precisamos acreditar. Se pudermos acreditar, e se conseguirmos.
E no meio do percurso, apercebe-se que este parece inexistente, e que cada dia é um novo percurso, as vezes laborativo, as vezes gracioso, mas ainda assim, um percurso.
É como se cada dia fosse uma nova oportunidade de corrigir falhas, ou de esquece-las. Ou de tentar fazer com que elas não sejam só falhas, mas oportunidades de se conhecer, e de usar a borracha e o lápis, e riscar o que foi escrito a caneta. É o estar repleto ou buscar a receita que não existe, mas na esperança de encontra-la, tropeçar em vários temperos que fazem do mistério e da incerteza um ambiente de consciência complementado com um pouco de luz.