Tem cores no meio das ruas
E no meio das ruas temos ilusão
Por meio de felicidade forjada
Nós vamos, voltamos e nos encontramos
Vemos fantasias de todos os modos
E máscaras caem a todo o momento
A chacota vira brincadeira
E a brincadeira coisa séria se torna
Esquecem-se os meses de conversa sincera
Estraga o vício, corrompe e prepondera
E se culpa por ser do povo e estar no povo
Traz do insano o mero gozo
E esconde aos risos o inexorável
Não faz mais do que lhe é premissa
E se respira, nem sabe se é ar
E se por pouco não se desespera, se desespera
A ansiedade que desfaz o mais calmo
E a ânsia lhe perfaz a inércia
Fúria que desdenha o mais doce
É prejuízo que corre e decorre
É tudo e também o nada
E o nada se transforma em busca
São as cores do meio da rua
São os gritos de revolução
Pinta o céu com a tinta cor de sangue
Não se cala o que foi apedrejado
Não se cale o que percebe que da falsa paz vem o desastre
Percebe, levante-se e lute
Lute, cresça e tenha vida
O que é o poder?
Quem o detém?
Quem o constitui?
Quem o mantém?
Indigne-se, e mantenha-se sóbrio
Indigne-se, retira-se e retira-o
Traga consigo a verdade
Leve consigo a invenção concreta
A intervenção modesta
O pequeno ato, virtude se torna
Dissipe-se, e dissipe seu pensamento
E se recolha se necessário.
Só não deixe que as cores malfazejas tomem conta
Só não deixe que seus pares de convicção te tomem a existência
Só não coloque preço que possa ser pago pelo inconveniente
Só não venda e não se venda
Insiste no que vale a pena
E descubra que no fundo da cor tem mais cor
E no fundo da paz tem mais paz
Mas no fundo do pútrido há também mais perdição.